domingo, 7 de dezembro de 2008

O Holocausto Não É Uma Questão de Opinião.


Preparemos as salas de conferências, os palácios dos congressos, o fórum das culturas, porque vão vir todos. Com suas engraçadas cabeças raspadas e seus líderes de casaco passado a ferro e mais passada ainda a consciência. Já não precisam ir ao paraíso libertário do Irã para explicar que nunca existiu a morte em massa, que o milhão de crianças exterminadas nos campos nazistas nunca deixaram ali seu último alento, que os dois terços de judeus europeus desaparecidos no magma de seis milhões de assassinados nunca tiveram nome. Agora poderão passear pelas belas ruas de Barcelona e dizer, em voz alta, que nunca existiu o Holocausto. Os negacionistas, a legião mais militante do revisionismo nazista, encontraram amparo no magnífico Tribunal Constitucional espanhol, e hoje já sabem que negar o Holocausto é uma questão de opinião, e não um ato de ignomínia, crueldade e anti-semitismo. Têm o amparo legal, e o céu caiu sobre nossas cabeças. Enquanto Ângela Merkel se desdobra pelos rincões do sentido comum, exigindo que a negação do Holocausto seja um delito na UE, na Espanha é diferente.


Do alto tribunal florescem as idéias do ultraliberalismo opinativo, e a Espanha passa a ser o país da Europa onde mais felizes viverão todos estes indesejáveis. A liberdade transformada na desculpa do fascismo.Pergunto-me, com minha maldade característica, se seria legal negar a existência das vítimas da ETA ou considerar que nunca existiu a dor terrorista. E, porque sei a resposta — e a aplaudo —, pergunto-me como é possível que alguém considere legal negar a maior tragédia da história da Europa. É uma loucura. E, sobretudo, é uma irresponsabilidade.Sim. Reconheço minha profunda tristeza. Por que esta decisão é um punhal no coração dos que ainda estão vivos, na lembrança dos que perderam famílias inteiras, povos apagados do mapa, gerações hipotecadas no buraco negro do horror. Creio que é uma burla às vítimas e um alento aos verdugos. Ou seja, é uma derrota da justiça, da memória e da dignidade.



Escrito por: Pilar Rahola. Publicado no El Periodico de Barcelona

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