Colecionador de Amizades
“Colecionador de amizades” foi a maneira escolhida pelo Presidente de Israel, Shimon Peres, para se referir ao Presidente Lula num dos quatro encontros em que esses dois adeptos da paz tiveram em menos de 24 horas, em Israel, entre 14 e 15 março. Além de Peres, o Primeiro-Ministro Benyamin Netanyahu, a líder da oposição Tzipi Livni, o Presidente do Parlamento, Reuven Rivlin, e a quase totalidade dos parlamentares israelenses receberam com satisfação a visita do Chefe de Estado brasileiro.
Essa recepção calorosa deveu-se, em grande medida, ao reconhecimento dos esforços brasileiros para dar novo impulso ao relacionamento bilateral. Apesar de o Brasil ter presidido, em 1947, a sessão da Assembléia Geral da ONU que consagrou a criação do Estado de Israel, os dois países estiveram muito distantes durante grande parte d os 62 anos de existência de Israel. Nos últimos sete anos, no entanto, o Brasil quis potencializar as relações com esse país amigo, investindo numa intensa e renovada agenda diplomática. Pelo menos dez Ministros brasileiros e oito israelenses cruzaram o Mediterrâneo e o Atlântico para fortalecer os laços entre os dois países, firmando acordos nas áreas de educação, meio ambiente, turismo, cultura, saúde, agricultura, defesa e ciência e tecnologia, entre outros.
Entre 2003-08, o intercâmbio comercial mais que triplicou , saltando de US$ 506 milhões para US$ 1,6 bilhão, fazendo do Brasil o principal parceiro comercial de Israel na América Latina. O Acordo de Livre Comércio entre MERCOSUL e Israel — primeiro do bloco sul-americano com um país de fora das Américas — alargará ainda mais esses horizontes promi ssores de negócios e de investimentos. O expressivo número de representantes do setor privado brasileiro, capitaneados pelo Presidente da FIESP, Paulo Skaf, no seminário empresarial em Jerusalém, confirma essa expectativa.
Como primeiro Presidente brasileiro a visitar Israel, Lula não só coroou essa bem sucedida parceria, mas também lançou as bases para novos e auspiciosos entendimentos. Numa especial deferência à comunidade judaica do Brasil, várias atividades contaram com a participação do Presidente da Confederação Israelita do Brasil, Cláudio Lottenberg, e do Presidente do Congresso Judaico Latino-Americano, Jack Terpins. A delegação também foi integrada pelo Governador da Bahia, Jaques Wagner, que depois seguiu para Palestina e Jordânia.
Além de uma relação construtiva entre Estados soberanos, interessa ao Brasil estreitar os vínculos entre nossas sociedades. Daí a programação ter incluído, além da agenda oficial, encontros com lideranças de organizações pacifistas e uma reunião com autoridades da Universidade Hebraica de Jerusalém, cujo Reitor virá em breve ao Brasil e declarou querer conhecer nessa ocasião as realizações do Plano de Desenvolvimento da Educação, o PDE.
Um dos pontos altos da viagem para toda a comitiva foi, sem dúvida, percorrer as instalações do novo Museu do Holocausto, de cujo acervo Lula guardava fortes recordações desde a visita que fizera a Israel em 1993. Tomado pelo sentimento de consternação, o Presidente brasileiro sugeriu que esse memorial às vítimas da irracionalidade humana deveria ser de conhecimento obrigatório para todos aqueles que queiram dirigir uma nação. No museu, depositou uma coroa de flores para todas as vítimas do extermínio nazista, repetindo o que fizera na entrada do Congresso em memória de todos os soldados israelenses mortos nos conflitos regionais.
Antes de se dirigir à Floresta das Nações para plantar uma oliveira, Lula ainda ouviu do Presidente do Conselho Deliberativo do Museu o pedido para que ajudasse a viabilizar um encontro entre ele, Rabino Israel Meir Lau, e o Presidente do Irã, Mahmud Ahmadinedjad, para que ambos – rabino e presidente do Irã - pudessem conversar sobre o extermínio ocorrido durante a II Guerra Mundial.
Em todos os eventos e encontros de que participamos, a busca dos caminhos para a paz na região foi um dos temas centrais, e o Presidente Lula reiterou a disposição do Brasil em ajudar no que for possí vel para que esse objetivo seja alcançado. Da mesma forma, defendeu enfaticamente a existência do Estado de Israel, soberano, seguro e pacífico convivendo, lado a lado, com um Estado Palestino, igualmente soberano, pacífico, seguro e viável.
É mais do que necessário que sejam dados passos resolutos e corajosos para superar décadas de conflito, ódio e dor. No Brasil, judeus e árabes (sejam muçulmanos ou cristãos) vivem em perfeita harmonia, ajudando a construir um país moderno, justo e desenvolvido. Essa convivência harmoniosa é fonte de inspiração para nossa política externa. É ela nossa maior credencial para cooperar na busca de alternativas para o processo de paz.
Esta é a mensagem de esperança e reconciliação que o Brasil tem levado aos povos do Oriente M&e acute;dio. Ela marcou a viagem a Israel, Palestina e Jordânia, e marcará os passos seguintes.
Com as históricas visitas de Peres aqui, em novembro de 2009, e de Lula alí, agora em março, ganham todos: Israel, o Brasil e a paz no Oriente Médio.
Clara Ant
Assessora especial do Presidente da República
clara.clara@ig.com.br
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